
Crescimento da abstenção nas eleições 2024: Reflexo de uma Crise de Representatividade?
As eleições municipais de 2024 trouxeram um dado alarmante: quase 30% dos eleitores no país não foram votar, segundo os dados consolidados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O índice é maior do que o registrado em 2020 – em meio às restrições e sofrimento com a pandemia da covid-19 – quando essa taxa girava em torno de 23%.
Um caso que ilustra bem essa tendência é o município da Serra, onde cerca de um terço dos eleitores optou por não comparecer às urnas no segundo turno do pleito, exatos 33,17%. Esse fenômeno da abstenção no país, 29,26% do eleitorado ou 9,9 milhões de eleitores lança luz sobre a questão do fortalecimento (ou não) da democracia brasileira.
O aumento de pessoas que deixam de exercer esse direito da cidadania acende um alerta e coloca em pauta a discussão sobre o verdadeiro valor do voto obrigatório em um nítido contexto de insatisfação crescente com as opções políticas disponíveis.
O elevado índice de abstenção questiona a efetividade da obrigatoriedade como mecanismo para garantir uma representação mais completa do eleitorado. Afinal, democracia vai além de apenas o ato de votar, mas de exercer sua cidadania de forma consciente.
Os eleitores que não comparecem às urnas enviam uma mensagem: a de que, para eles, os candidatos que concorrem não cumprem com as expectativas de quem deseja de um governo mais alinhado com seus valores e preocupações. Este é um fenômeno relevante e que precisa ser interpretado sob uma perspectiva crítica.
Também nesta eleição foi percebida uma distinção importante entre as vertentes do campo conservador. O que algumas análises apontam é que existe uma diferença marcante entre o voto da direita tradicional e o voto bolsonarista. Esse fenômeno ficou claro em várias capitais e grandes cidades, onde candidatos identificados diretamente com a figura de Jair Bolsonaro enfrentaram derrotas, mesmo em locais onde o ex-presidente já teve grande popularidade.
Belo Horizonte é um exemplo, onde, mesmo com o apoio explícito de Bolsonaro, a direita radical foi preterida pela ala conservadora mais tradicional, menos polarizada e menos inflamada. Esse cenário mostra que, ainda que o campo conservador mantenha sua relevância, o eleitorado tem rejeitado, em algumas regiões, figuras que personificam uma política de extremos, optando por um discurso que busca maior moderação.
Por fim, a questão que fica mesmo é se o voto obrigatório continua a ser um recurso essencial para a democracia no Brasil ou se ele se tornou um ritual esvaziado, incapaz de capturar a verdadeira voz de uma sociedade que parece estar cada vez mais distante dos políticos eleitos. Quando a abstenção aumenta, especialmente em uma estrutura de voto obrigatório, a própria legitimidade do processo eleitoral é colocada em xeque.
Essa é uma reflexão que exige que se olhe, além da quantidade de votos, seja focada na qualidade desses votos. Afinal, o fortalecimento democrático depende não apenas de eleitores que cumprem com a obrigação, mas que o façam com a convicção de que suas escolhas refletem seus anseios e visões de sociedade.
Lembrando ainda, nesta eleição, surge um cenário de avanço expressivo do PSD, MDB e outros partidos do centrão nas Prefeituras, o governo federal provavelmente enfrentará pressões para uma reforma ministerial, especialmente considerando que esses partidos devem exigir maior participação no governo. Aguardemos portanto os próximos capítulos da política nacional. Mas isso é um assunto para um próximo artigo…
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Wander Gadita é cientista político e especialista em comunicação política.
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