União cooperativista: o poder do exemplo em tempos de calamidade.
Diante das tragédias que atingiram o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul, cooperativas capixabas transformaram solidariedade em ação, inspirando pessoas a se mobilizarem para reconstruir comunidades afetadas.
Texto: Eliza Frizera.
No mês de março, o país acompanhou a força avassaladora da natureza nas comunidades do Sul do Espírito Santo. Vídeos que circularam na internet mostraram em tempo real as enchentes assolando as cidades, principalmente Mimoso do Sul. O resultado de tal caos foi uma devastação difícil de descrever, com milhares de pessoas desabrigadas e vidas sendo perdidas pela força das águas.
Situação semelhante ocorreu entre o final de abril e maio no Rio Grande do Sul, onde o desastre foi classificado como o maior socioambiental da história do estado. A Defesa Civil informou que quase 95% dos municípios gaúchos foram atingidos, resultando na morte de centenas de pessoas e forçando 629 mil a deixar suas casas.
Em meio ao desespero, as respostas rápidas de ajuda foram fundamentais, revelando fontes de esperança que tocaram não apenas os capixabas, mas toda a comunidade brasileira: a solidariedade e, sobretudo, o poder inspirador do cooperativismo. A união das cooperativas, baseada nos princípios de responsabilidade, democracia e compromisso com o bem-estar comunitário, surgiu como um modelo exemplar nas ações de emergência, se destacando pela eficácia e pela profundidade do impacto.
Mais do que uma simples resposta de ajuda, as cooperativas mostraram o verdadeiro valor da coletividade em tempos de crise, oferecendo suporte imediato e estrutural que trouxe alento e força para aqueles que mais precisavam. O cooperativismo, com seus princípios de adesão livre, gestão democrática, e participação econômica, manifestou-se plenamente nas ações de socorro. As cooperativas e seus membros se uniram para compartilhar recursos, organizar doações, abrir suas portas e oferecer apoio emocional, encarnando o verdadeiro espírito de solidariedade que sustenta o movimento cooperativista.
Assim, mesmo diante das tragédias, esses desastres nos lembraram de algo essencial: que a ação empática promove o bem comum através do exemplo e isso vem atravessando gerações ao longo da história.
(Colocar áudio)
O Sicoob, uma das maiores cooperativas de crédito do país, se destacou no Espírito Santo pela empatia com seus cooperados. Através do programa Recomeçar, a cooperativa disponibilizou R$ 25 milhões em crédito sem juros, com até 12 meses de carência para o início do pagamento. Segundo o diretor-executivo do Sicoob/ES, Nailson Dalla Bernadina, o objetivo do programa é proporcionar suporte financeiro para a aquisição de itens essenciais e a restauração de imóveis danificados por desastres naturais. “Sabemos que, em situações de desastre, a recuperação das necessidades básicas após uma perda total é essencial e demanda rapidez. Nossa ação foi oferecer apoio financeiro imediato, com crédito de R$ 5 mil para pessoas físicas e até R$ 20 mil para pessoas jurídicas, além de um prazo mais longo para o pagamento do empréstimo. Assim, durante esse período crítico, a única preocupação dos cooperados será a reconstrução de suas vidas”, afirmou o diretor-executivo.
Além das ações imediatas durante as crises, é fundamental pensar no futuro para amenizar o impacto de tragédias semelhantes. Com isso em mente, o Sicoob ES investiu R$ 9,9 milhões em iniciativas de sustentabilidade em 2023. Esse investimento foi direcionado para práticas ambientais responsáveis, apoio a projetos de resiliência comunitária e programas educativos sobre gestão de riscos. “Com tragédias climáticas de maior escala, como a que ocorreu no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo, percebemos que esses efeitos vão gerar novos desafios no futuro. Com essa visão, estaremos sempre preparados, e o Sicoob Espírito Santo continuará a oferecer suporte tanto aos nossos cooperados quanto a toda sociedade”, finalizou Nailson.
O comprometimento do Sicoob foi além da assistência financeira imediata. Em mais uma demonstração de solidariedade e engajamento comunitário, a Cooperativa Mirim Cooperjetibá, com o apoio da cooperativa de crédito, lançou uma campanha para arrecadar fundos destinados à montagem de kits de material escolar. Estes kits, contendo cadernos, livros, lápis, tintas, massinhas, borrachas e escovas de dente infantis foram enviados para estudantes de escolas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Além disso, para fortalecer o vínculo emocional e demonstrar apoio, os alunos da Cooperjetibá escreveram cartas à mão aos estudantes gaúchos, mostrando que a solidariedade e o cooperativismo não apenas educam, mas inspiram pequenos seres humanos a ser empáticos desde cedo.
Bento Venturim, presidente do Sicoob-ES, ressaltou a importância desse compromisso e participação: “Essa pegada social está nos valores e nos princípios do cooperativismo. No caso do Sicoob, ou fazemos isso, ou seríamos apenas mais uma instituição financeira entre tantas”.
Segundo o Sistema OCB-ES, em 2023, as ações de responsabilidade social promovidas pelas cooperativas capixabas no âmbito do Dia de Cooperar (Dia C) beneficiaram 93.435 pessoas, mais que o dobro do número registrado em 2022, quando 44 mil foram impactadas.
No total, 198 ações foram realizadas, representando um crescimento de 24,5% em relação ao ano anterior. Dentre essas iniciativas, 34 ocorreram por meio da intercooperação, unindo recursos humanos e financeiros de diversas cooperativas para potencializar os resultados.
O assessor de Relações Institucionais do Sistema OCB-ES, David Duarte Ribeiro, contou que as cooperativas têm sido fundamentais, principalmente quando une forças com órgãos públicos e voluntários nas ações de responsabilidade social e assistência. “Em nossa análise, fruto de uma atuação planejada e organizada, temos avançado de maneira significativa ao longo dos últimos anos nas aproximações, na viabilização de um diálogo permanente e, como consequência, nas parcerias com o poder público, tanto na esfera estadual quanto, principalmente, na municipal. Os municípios são a base de tudo o que é gerado no estado, e é neles que as ações sociais são desenvolvidas. A participação do poder público, com o uso de sua infraestrutura, como praças, ginásios e escolas, além da disponibilização de profissionais e atendimento às principais demandas, é essencial para o sucesso de todo o trabalho. Essa colaboração contribui diretamente para os resultados, que crescem a cada ano”, afirma David.
Ao olhamos para esses momentos, vemos não apenas o poder transformador das ações de solidariedade e união, mas também a essência do que nos torna verdadeiramente humanos: nossa capacidade de cuidar uns dos outros. Que esses exemplos não se percam nas páginas da história, mas que continuem a inspirar gerações a construir um mundo onde a compaixão seja maior força do ser humano.