Ceratocone é a principal causa de transplante de córnea no Brasil e afeta 150 mil pessoas por ano

Por Lyvia Justino
Campanha Junho Violeta alerta para os riscos da doença e reforça a importância do diagnóstico precoce para evitar complicações
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 150 mil brasileiros desenvolvem ceratocone todos os anos. Embora muitas vezes confundida com miopia ou astigmatismo, a doença é a principal causa de transplante de córnea no país. Em 2024, segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), foram realizados 17.106 transplantes de córnea no Brasil, enquanto 28.987 pessoas aguardavam na fila.
Durante o mês de junho, a campanha Junho Violeta busca conscientizar a população sobre o ceratocone e destacar a importância do diagnóstico precoce. O oftalmologista do Hospital de Olhos Vitória, Pedro Trés Vieira Gomes, explica que o ceratocone é caracterizado pela alteração no formato da córnea, que compromete a visão de forma progressiva.
“A doença provoca o afinamento e a deformação gradual da córnea, estrutura transparente na parte frontal do olho, fazendo com que ela assuma um formato semelhante a um cone. Isso leva a sintomas como visão embaçada, sensibilidade à luz, aumento frequente do astigmatismo e da miopia, além de dificuldade para enxergar à noite”, explica o médico.
O ceratocone costuma atingir, principalmente, adolescentes e jovens adultos, podendo evoluir até os 40 anos ou se estabilizar com o tempo. “Entre os fatores de risco estão a predisposição genética, quadros alérgicos, como a atopia, e fatores ambientais, como poeira, poluição e pelos de animais. Mas um dos principais agravantes, no entanto, é um hábito comum: coçar os olhos com frequência. Esse gesto aparentemente inofensivo pode causar danos sérios à córnea, especialmente em pessoas predispostas”, pontua Pedro.
O médico alerta que o diagnóstico precoce é essencial para evitar a progressão da doença e, consequentemente, a necessidade de transplante. Segundo o oftalmologista, é preciso ter atenção aos sinais, principalmente em adolescentes em idade escolar. “A dificuldade de aprendizado e a queda no desempenho escolar, principalmente se associada ao desenvolvimento de uma miopia rápida ou troca frequente do grau dos óculos, podem ser indicativos da doença e precisam ser investigados com atenção”, reforça.
O diagnóstico do ceratocone é realizado por meio de exames oftalmológicos específicos, como a topografia e a paquimetria corneana, que avaliam o formato e a espessura da córnea. O tratamento inicial inclui evitar coçar os olhos, além do uso de colírios lubrificantes, que ajudam na hidratação da superfície ocular. Nos casos em que há progressão da doença, pode ser indicado o crosslinking, procedimento que fortalece a estrutura da córnea e contribui para sua estabilização.
Já para o tratamento da correção visual, o uso de óculos e lentes de contato é a primeira opção para corrigir a refração causada pela doença. Em quadros mais avançados, o transplante de córnea pode ser necessário.
“O mais importante é as pessoas se conscientizarem sobre importância da saúde ocular. É preciso incluir consultas regulares com o oftalmologista na rotina de cuidados com a saúde, mesmo quando não há sintomas. A maioria das doenças que atingem os olhos podem ser tratadas ou estabilizadas se diagnosticadas no início. Não espere a visão piorar para buscar ajuda”, finaliza Pedro.