Mês de conscientização do lipedema: diagnóstico tardio é um dos principais desafios, afirmam especialistas

Olhar para o espelho e ver um corpo com características e contornos desiguais: da cintura para cima, formas sem excesso de gordura; e nas partes inferiores mais volume, tudo desproporcional. Como se dois corpos pertencessem a uma mesma pessoa.

Essa é a sensação de quem tem lipedema, doença que se manifesta pelo acúmulo de gordura desproporcional em algumas partes do corpo, como pernas, coxas, quadris e braços, e que afeta principalmente o público feminino.

Estima-se que uma em cada dez mulheres no mundo tenha a doença, que ainda conta com um fator que dificulta ainda mais a vida das pacientes: o diagnóstico tardio. Apesar de ser mais comum do que se imagina, especialistas estimam que muitas mulheres convivem com a condição e não sabem.

Para conscientizar a população sobre o lipedema foi criada a campanha Junho Roxo, que tem como objetivo de levar à população informações que ajudam a identificar os sinais dessa patologia.

“Devido ao volume exagerado de gordura, o lipedema é bastante confundido com obesidade. Esse diagnóstico equivocado é bastante prejudicial, porque a paciente não recebe o tratamento adequado para a condição, que é progressiva. Quando não tratada corretamente, a doença avança para quadros mais graves”, explicou cirurgiã plástica Patricia Lyra, cofundadora do Instituto Lipelife, centro de referência no tratamento e pesquisa do lipedema no Espírito Santo.

Embora ambas sejam doenças crônicas, a obesidade e lipedema são coisas diferentes e cada uma requer um tratamento específico.

“Enquanto na obesidade o sobrepeso é uniforme, no lipedema o excesso de gordura atinge algumas partes específicas, provocando dores e inchaços nos membros afetados, hematomas por todo o corpo e muita exaustão”, informou a médica endocrinologista Lusanere Cruz, que atua no tratamento do lipedema.

Essa condição não tem cura, mas o tratamento especializado ajuda a combater os sintomas e a progressão da enfermidade, que acontece quando o volume de gordura aumenta, podendo comprometer até mesmo a mobilidade da paciente.

O tratamento da condição consiste na atuação integrada de diversas especialistas, como fisioterapeuta, nutricionista, educador físico, endocrinologista, psicólogo, angiologista e, em caso de indicação cirúrgica, um cirurgião plástico.

“Quando a pessoa trata o quadro como se fosse obesidade não alcança os resultados desejados, já que a gordura do lipedema não é eliminada apenas com dieta e atividade física emagrecimento. As terapias precisam ser específicas para o lipedema, incluindo fisioterapia, terapias de compressão e exercícios orientados”, esclareceu a fisioterapeuta Larissa Musso, especialista no tratamento do lipedema.

A médica cirurgiã plástica Patricia Lyra destacou, ainda, que é fundamental que as pacientes se comprometam com um estilo de vida saudável.

“Ter uma alimentação adequada, de acordo com orientação nutricional especializada, e se comprometer com a atividade física são medidas fundamentais para combater os sintomas da doença e evitar que essa condição evolua para estágios mais graves. E mesmo quando há uma indicação de cirurgia, a paciente precisa manter continuamente as outras terapias do tratamento conservador”.

Thainá Gomes 

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