Zé Laurindo, um guerreiro na comunidade

 

 José Laurindo fez história em Flexal

O Robnilson, um dos seus filhos, contou que soube do desabamento quando chegou do trabalho e viu a multidão na frente da residência. O rapaz morava no primeiro andar do imóvel e, por pouco, também não foi vítima. “Meu pai morava aqui há 46 anos, foi líder comunitário. Era uma pessoa muito querida. Como pai, era meu herói. Perdi meu maior bem, meu herói. É muito triste do jeito que ele se foi. A minha sorte é que eu estava trabalhando”.
Momento antes do desabamento, José Laurindo, foi alertado por vizinhos de que uma pedra havia caído do terraço. Ele veio até o lado de fora para observar melhor, mas, segundo os vizinhos, ele achou que alguém tivesse lançado a pedra, coisa de criança atrás de passarinho. Em seguida, ofereceu um café para os vizinhos. Ele entrou no imóvel para buscar e, logo em seguida, a casa desabou. E o desespero foi total.
O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil Municipal foram acionados. As equipes contaram com a ajuda de moradores da região para resgatar as vítimas. O corpo de José só foi encontrado depois de várias horas de buscas, com a ajuda dos cães farejadores do Corpo de Bombeiros.
Segundo o vizinho, Anderson da Silva Almeida, a frente da casa começou a desabar. Começou pela frente e depois atrás. Desabou tudo. Ele desceu correndo, outros moradores também chegaram para ver se encontrávamos vítimas, e acharam uma vítima na sala, e a outra no final da casa. Estavam conscientes, mas uma com o rosto amassado e a outra com ferimentos também no rosto e na perna

Líder Sindical


Eu falo com muita propriedade, pois conheci José Laurindo da Silva, em 1989, nos embates sindicais, quando fui funcionário do Sindicato dos Empregados em Empresas de Vigilância e Segurança do ES. Em meus atendimentos na entidade classista, percebi um diferencial num homem de pouca estatura, bastante cabelo, que respondia de forma monossilábica aos questionamentos. Ele se destacava entre os 1400 vigilantes da extinta empresa ESSEL. Líder nato. Aprendi muito com ele. Me recordo, numa noite, após uma movimentada assembléia geral, no clube vitória, no centro da cidade, mais de 3 mil pessoas presentes, ele me chamou ao canto, para me aconselhar. Com a voz mansa, condenou o meu discurso,dizendo que era necessário trilhar por outro caminho, para obtermos a vitória. Na ocasião, o vigilante tinha como base salarial, o piso mínimo nacional, e nada mais. Foi ouvindo os conselhos, do meu amigo, hoje falecido, que o sindicato dos Empregados em Empresas de Vigilância e Segurança do ES, mudou as estratégias, e partiu para o embate, resultando numa vitória, após o julgamento do dissídio coletivo. O salário quase dobrou, vieram benefícios, e a escala 12/36, que é a mais praticada até hoje.
A ideia de José Laurindo, este baluarte, de pernoitar nos portões da Vale do Rio Doce, criou um reboliço entre os coronéis. Ele, eu e mais 8…éramos 10. Lá ficamos,cumprindo o plantão, conscientizando os trabalhadores para o movimento. José Laurindo, achava, que uma pressão numa grande estatal, do porte da Companhia Vale do Rio Doce, iria pressionar o Tribunal Regional do Trabalho, a antecipar o julgamento do dissídio, bem como, resolver o impasse com a classe patronal. E deu certo. Muita picada de mosquito, frio da madrugada, todavia, ao amanhecer, fomos comunicados que, em dois dias, seria o aludido julgamento. Ele foi líder nato. E nunca gostou de holofotes. Corria das fotografias. Mas primeiro a se apresentar aos momentos de luta.
Ele ainda, atuou na liderança comunitária de Flexal. Nesta época, o presidente de entidade, não vendia seu mandato por cargos e benesses. Ele trabalhava em prol do seu bairro, em busca de melhorias. Por várias vezes, fomos juntos ao Conselho de Iluminação pública, tentar umas extensões de rede, com instalação de iluminação pública. Pois nada era fácil. Hoje você liga 162, e pede pra ligar. Antes, era luta na comunidade, até para uma lâmpada.
José Laurindo Filho, foi um baluarte, guerreiro. Homem, integro e trabalhador. Dedicado a família, trabalho e temente a Deus. Deixa um legado, que vale a pena ser honesto.

Matéria enviada por Ronaldo Chagas.

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